Orando uns pelos outros

Publicado por Jean Santos em

Parece não haver crescimento sem oração uns pelos outros. Na verdade, quando distinguimos crescimento em dois departamentos (quantidade e qualidade), podemos estar com uma compreensão deficiente do processo sadio de edificar a Igreja. Isso porque o crescimento numérico da Igreja depende da permanência dos convertidos, o que não acontecerá sem uma edificação nos moldes bíblicos. Por tentar praticar uma edificação em tais moldes, temos trabalhado com seriedade, preparando os discipuladores e fazendo o possível para equipa-los. Temos colhido um bom fruto e devemos prosseguir nisso. Mas não estamos satisfeitos, especialmente no que diz respeito ao deficiente índice de permanência dos discípulos. Percebemos, oportunamente, grande falha no processo de edificação, a qual pretendemos corrigir aplicando o ensino bíblico deste estudo a seguir. Descobriremos que não é possível um discípulo permanecer em Cristo se não for, além de alimentado devidamente pela Palavra de Deus e vinculado em íntima comunhão com a Igreja, sustentado pela oração de seus irmãos.

I. Ordenanças à Oração Uns Pelos Outros:

  1. 1Tm 2.8: Os homens devem orar em todo lugar. No contexto Paulo fala algumas coisas às mulheres, mas não as direciona especificamente à oração. Aos homens, sim, ele dá essa ordem específica. Percebemos grave falha entre nós neste particular, pois geralmente as mulheres estão mais fervorosamente voltadas à oração que os homens. Convoquemo-nos hoje, os homens, para uma mudança radical de nosso perfil. Parece que Deus quer que coloquemos a oração como um hábito de vida para qualquer hora e lugar.
  2. Tg 5.16: Andar na luz e orar uns pelos outros é essencial para saúde espiritual. Nós temos dado ênfase necessária ao andar na luz, mas negligenciado o orar uns pelos outros. Para obedecer a este texto temos aplicado a oração uns pelos outros ao momento de confissão, considerando que a ordem está neste contexto. Mas devemos entender que há duas ordens a serem obedecidas: 1) confessar (andar na luz) e 2) orar uns pelos outros, para depois se obter a cura prometida – “para serdes curados”. Não podemos limitar o entendimento de que a ordem de orar com a promessa de cura esteja presa somente à confissão de pecados e a qualquer mal a isso relacionado. Muitos precisam de cura de diversos males para prosseguirem caminhando na fé.

O texto também diz que a súplica de um justo é eficaz. Nós estamos buscando solução eficaz para o problema da excessiva desistência por parte dos convertidos. Pois aí está a solução eficaz apontada pelos apóstolos.

  1. Ef 6.18: Vigiar com perseverança suplicando por todos os santos. Aqui há uma clara determinação para orarmos uns pelos outros. Este verso diz algo importante sobre orar no Espírito Santo: “Orando em todo tempo no Espírito e para isso vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”. Está dizendo que a forma prática de se orar em todo tempo no Espírito é vigiar com oração perseverante pelos irmãos. O Senhor quer nos dar consciência de que o Espírito santo anseia dirigir-nos em oração pelos nossos irmãos.
  2. 1Tm 2.1-4: “Antes de tudo que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens”. Na sequência Paulo ordena que se ore a favor dos reis e dos que se acham investidos de autoridade.

Primeira razão: Para que tenhamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Paulo está dizendo claramente que se orarmos por nossas autoridades teremos mais tranquilidade neste mundo ímpio.

Segunda razão (principal): Para que sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Precisamos compreender que ser salvochegar ao pleno conhecimento da verdade podem representar coisas diferentes. Ser salvo é algo instantâneo que ocorre no momento do arrependimento e batismo. Mas conhecer plenamente a verdade é o processo que se segue. A maioria de nós costuma orar por alguém até que se converta. Daí pra frente utilizamos o recurso de alimentá-lo pela Palavra, deixando tudo por conta do discipulador. Mas o texto diz que precisamos prosseguir orando até que este irmão chegue ao pleno conhecimento da verdade. Veremos adiante como Paulo praticava isso à risca.

  1. 1Jo 5.16: O apóstolo João está dando uma ordem para que se ore por algum irmão que estiver em pecado e Deus lhe dará vida. Nos versos anteriores ele havia ensinado de que Deus responde às orações feitas segundo a Sua vontade. Isso indica que é da vontade de Deus restaurar os irmãos que estão lutando com pecado, mas não o fará sem a oração da Igreja. Muitos sucumbem na fé por terem caído em laços do pecado e depois não encontram vigor para voltar e prosseguir. Isso pode ser aplicado também àqueles irmãos que estão sendo restaurados pelo processo de disciplina.
  2. Mt 6.13: “e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal”. Jesus disse que devemos orar para não cairmos em tentação e para sermos livres do mal – Satanás e seus desígnios. Podemos inferir que isso deve ser causa de oração uns pelos outros para que a Igreja seja livre do mal e livre das tentações. Jesus no Getsêmani (Lc 22.40), disse aos discípulos que orassem para não entrarem em tentação.
  3. 1Pd 5.8-9: Podemos considerar a ordem de ser sóbrio e vigilante como uma ordem à oração. A razão disso é claramente colocado por Pedro: O diabo em suas intenções e planos contra os filhos de Deus. Precisamos tapar a brechas que poderiam servir de avenidas para o inimigo agir na vida de nossos irmãos. O Espírito Santo quer dirigir-nos enquanto cobrimos os irmãos em oração, prevenindo-nos com respeito aos ardis do inimigo.

II. Orações de Paulo pelos irmãos:

  1. Rm 1.9-10: Paulo diz que Deus é testemunha de que fazia incessantes orações pelos irmãos de Roma – que ainda nem conhecia.
  2. Ef 1.15-16: Paulo ouviu falar da qualidade da fé dos efésios e orava dando graças Deus de maneira incessante. Orava para que sua experiência de revelação de Cristo fosse maior agora. Depois compartilha ainda mais sobre como orava pelos irmãos de Éfeso – 3.14-21. Tudo isso está relacionado com a edificação e fortalecimento da fé dos discípulos – sua permanência.
  3. Fp 1.3-11: Paulo diz que fazia sempre e com alegria menção de todos em todas as suas orações. Tinha a alegria de ter boas recordações dos irmãos e vivia a dar graças a Deus por suas vidas. Diz que estava plenamente certo de que Deus completaria a obra neles. Mas esta convicção não o fazia parar de orar. Estamos habituados a orar pelos irmãos quando estão fracos ou enfrentando tribulações, mas não é isso que Paulo fazia. Ele queria que os irmãos crescessem ainda mais. Leia do verso 9 ao 11 e veja o que ele pedia especificamente por eles. É impressionante!
  4. Cl 1.3-12: Paulo repete a mesma prática em favor dos Colosssenses, mesmo que era um grupo que ele ainda não conhecesse pessoalmente. Orava dando graças por tudo que os irmãos já tinham e não cessava de orar de forma específica para que crescessem e fossem confirmados (9-12).
  5. ITs 1.2: Paulo repete a prática em favor dos tessalonicensses. Ele completa em 3.9-10 que dava graças, mas orava noite e dia com o máximo empenho, pois não queria que houvesse deficiência na sua fé. Em 2Ts 1.3 e 11 Paulo coloca a mesma riqueza de prática e oração específicas na direção da edificação. Podemos perceber que a oração dele progredia adiante do crescimento espiritual daquela Igreja.

Paulo edificava por meio da oração– isso é uma grande chave para nós neste momento. O que estamos buscando senão uma forma de termos discípulos com uma fé vigorosa, que não desistem de Cristo e da Igreja em quaisquer circunstâncias? Paulo dá a sua fórmula.

  1. 2Tm 1.3: Paulo se lembrava do seu discípulo Timóteo noite e dia nas orações.
  2. Fm 4-6: Paulo se lembrava sempre de Filemon em suas orações. Pedia a Deus que a comunhão de sua fé se tornasse eficiente no pleno conhecimento de todo bem que havia na Igreja para com Cristo. Era uma oração para que a fé deste irmão fosse fortalecida em uma direção específica.

III. Epafras:

Cl 4.12: Epafras tem o testemunho de Paulo de que se esforçava em oração sobremaneira, continuamente, em favor dos colossences, para que se conservassem perfeitos e plenamente convictos de toda vontade de Deus. Está claro novamente a edificação e sustento dos convertidos pela oração. E isso não era um hábito particular de Paulo, mas dos líderes em geral.

IV. Pedidos de oração de Paulo:

  1. Rm 15.30: Paulo roga aos irmãos, pelo Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito Santo, que lutem em oração a seu favor. O pedido, feito num tom grave, é específico em relação a ter ele livramento de perseguição de rebeldes na Judéia e também para ser bem interpretado pela Igreja de lá. Paulo estava levando uma oferta para cobrir os necessitados daquela região. Ele sabia que não somente fazer as coisas certas seria suficiente para ter fruto. Era necessário tudo estar coberto de oração, e muita.
  2. 2Co 1.3-11: Paulo está falando do grande conforto e livramento que havia recebido da parte de Deus no período que esteve na Ásia. Diz que as tribulações haviam sido acima de suas forças. Diz que aprendeu viver em uma constante sentença de morte para que não confiasse em si mesmo, mas no Deus que ressuscita os mortos. Diz que continuaria esperando em Deus para livra-lo da morte. Mas que para isso contava com a ajuda da Igreja em oração a seu favor. Mais uma vez relaciona o livramento de Deus com a oração da Igreja.
  3. Ef 6.18-20: Paulo, ao orientar a Igreja de que viva a orar em todo tempo uns pelos outros, faz novamente um pedido específico de oração para si em relação ao seu ministério. Pede que os irmãos orem para que tenha intrepidez e unção para fazer conhecido o mistério de cristo. Devemos orar uns pelos outros para que todos tenhamos igual intrepidez e unção. Devemos orar pelos líderes e pelos irmãos que têm ministério específico, para que a Igreja seja beneficiada pelos dons conferidos por Deus a eles.
  4. 1Ts 5.25: Paulo está no final de sua carta e não deixa de fazer o apelo: “Irmãos, orai por nós”.
  5. Hb 13.18-19: Há um pedido de oração à Igreja muito interessante aqui. O autor de Hebreus estava, aparentemente, encarcerado. 1) Diz que os irmãos podiam orar por ele, pois tinha boa consciência. Isso indica que não havia nada em sua vida que pudesse impedir a Deus de responder as orações. 2) Depois faz seu apelo com mais veemência. Diz: “Rogo-vos, com muito empenho, que assim o façais, a fim de que eu vos seja restituído mais depressa”. É muito interessante pensar que as orações da Igreja poderiam abreviar o tempo de tribulação deste irmão, uma vez que, como podemos concluir por suas palavras, estava aprovado por Deus.

Exemplo prático da Igeja primita – At 12.5: Pedro estava prestes a ser morto, como havia sido Tiago. Mas há uma diferença agora: Havia oração incessante a favor dele por parte da Igreja. A expressão “mas havia oração incessante a Deus” quer deixar claro de que essa foi a causa de todo livramento que se decorreu no desfecho da situação. Houve um grande livramento por causa da oração. Quem sabe não teria Deus livrado Tiago se a postura da Igreja tivesse sido a mesma!

V. Jesus orando pelos discípulos:

  1. Lc 22.31-32 ensina duas coisas:
  1. Jesus disse que Satanás havia reclamado os discípulos para peneira-los como trigo. Deus permite ao diabo provar os filhos de Deus. Isso mostra que o diabo pede permissão a Deus para provar os filhos de Deus, a exemplo do que havia acontecido com Jó.
  2. Jesus diz com toda clareza que a sua intercessão iria sustentar a Pedro na hora desta provação. A intercessão de outro sustenta o filho de Deus nas provação. Detalhe: Jesus já havia orado preventivamente. Não oraria quando Pedro estivesse sendo provado, mas orou antes que esta provação viesse.

A oração foi para que a fé de Pedro não desfalecesse, algo muito importante acerca do que precisamos neste momento. Muitos estão desfalecendo na fé e desistindo. Jesus se utilizou da oração para que Pedro não sucumbisse. Não precisamos inventar, mas com simplicidade imitar o modelo de Cristo.

  1. João 17:
  1. Pede ao Pai que sejam guardados no Seu Nome e permaneçam em unidade – 11. Permanecer em unidade é permanecer sujeito ao Corpo e em comunhão com Cristo por meio dele. É perseverar caminhando com a Igreja.
  2. Pede ao Pai que os guarde do mal – 15. Isso é algo que Jesus já havia ensinado aos discípulos de que deviam fazer sempre em oração.
  3. Pede que sejam santificados na Verdade – 17. Diz que a Palavra de Deus é a verdade. Isso nos ensina que dar somente a Palavra aos discípulos sem regar com a oração não será menos eficaz. Jesus deu a Palavra e orou ao Pai para que esta os santificasse.
  4. Roga por todos aqueles que futuramente iriam crer Nele, a fim de que fossem um como a trindade é Um. Isso faria o mundo crer nEle – 20-21;
  5. Rm 8.34: Paulo diz que Cristo está à direita de Deus e continua intercedendo por nós. Hb 7.25 diz que Cristo pode salvar totalmente os que se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.

VI. Outros Exemplos:

  1. A vida de Samuel: Samuel tinha a carga de orar pelo povo de Israel: 1Sm 7.5,15-17;12.18-19; 15.11.
  2. A necessidade de intercessão: Gn 20.7; Jó 33.23 ; 42.8-10; Is 59.16; Ez 22.30.

Conclusão:

Acabamos por concluir que há muitas ordens para que oremos uns pelos outros. Mais que isso, a prática da Igreja primitiva parece-nos mais forte que as ordens. É abundante o exemplo que temos diante de tantos textos. O ensino, neste caso, acaba sendo ainda mais forte exigindo uma mudança imediata, se é que queremos seguir o modelo de Igreja do Novo Testamento de uma edificação sadia, entendendo o que é bíblico na relação entre “quantidade” e “qualidade”.


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