O Evangelho do Reino

Publicado por Jean Santos em

O que significa a expressão “Evangelho do reino”? Tememos que alguns a estejam compreendendo mal e usando de forma errada. Já vimos gente usando-a até mesmo como se fosse um rótulo nosso. “Vocês são o pessoal do evangelho do reino”; ou pior: “quando eu vim para o evangelho do reino” ou ainda: “você está na visão do reino?”. Esta expressão não é um rótulo, nem é a denominação de um grupo de pessoas, nem tampouco designa um “pacote de visão”. Ela é uma expressão que aparece inúmeras vezes no novo testamento:

“Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia pregando o evangelho de Deus 15 e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho.” Mc 1:14,15

“Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze,” Lc 8:1

“Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.” At 8:12

“Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.” At 19:8

Ela define o ponto central do evangelho pregado por Jesus e pelos apóstolos: O governo de Deus sobre a vida de cada homem. Ela proclama o fim do reinado do homem sobre sua própria vida. A perdição eterna do homem é fruto de sua rebelião, por disso, ele não poderá ser salvo sem que abandone esta rebelião. A salvação é, portanto, uma decisão de colocar-se debaixo da autoridade de Jesus, submetendo-se às condições impostas por Ele. Diante disso, é importante entender a origem e significado da palavra “decisão”, que se formou a partir do verbo latino caedere (cortar). “decisão”, significa “cortar fora”. Quanto à vida espiritual, decidir é, romper com a rebelião, romper com o governo sobre a própria vida. Ninguém é salvo por fazer uma oração pedindo que Jesus entre em seu coração, não há base bíblica para isso. Também não é suficiente apenas crer em Jesus. É necessário arrependimento e renúncia.

“Naqueles dias apareceu João, o Batista, pregando no deserto da Judéia, 2 dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. 3 Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto; Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 5 Então iam ter com ele os de Jerusalém, de toda a Judéia, e de toda a circunvizinhança do Jordão, 6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados. 7 Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? 8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, 9 e não queirais dizer dentro de vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. 10 E já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore, pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. 11 Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo. 12 A sua pá ele tem na mão, e limpará bem a sua eira; recolherá o seu trigo ao celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.” Mt 3:1-12

“E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me. 35 Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á.” Mc 8:34,35

“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também ã própria vida, não pode ser meu discípulo. 33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.” Lc 14:26,33

Porque Jesus e os apóstolos pregaram o arrependimento e a renúncia? Porque sem estes dois elementos o ego do homem não sai do trono de seu coração, sem arrependimento e renúncia Jesus não pode estabelecer o reino de Deus no coração do homem. O arrependimento e a renúncia expressam de forma prática que alguém creu em Jesus. Esta expressão vai marcar a ênfase do evangelho que Jesus quer que preguemos em contraste com a teologia moderna onde a ênfase está no bem estar do homem. A ênfase da pregação evangélica sempre foi na salvação eterna do homem e isto tornou o evangelho centralizado no homem e não em Cristo e no seu reino.

Lamentavelmente, nos últimos anos a igreja inclinou-se para um humanismo maior ainda, pois deixou a pregação da salvação eterna (que pelo menos tinha um cunho espiritual) e passou a pregar um humanismo pleno, ressaltando apenas as bênçãos terrenas. Estas bênçãos certamente fazem parte do evangelho e devem acompanhá-lo, mas lamentavelmente elas tornaram-se um fim em si mesmas, tomaram o lugar do evangelho de Jesus, tornando-se o próprio evangelho da igreja moderna.

O importante a salientar aqui, é que este evangelho do reino deve ser anunciado com toda clareza para que possa se cumprir o propósito de Deus. Como poderão crescer em direção à imagem de Jesus, crentes que estão centralizados em si mesmos e em suas necessidades terrenas? O entendimento do evangelho do reino e do propósito eterno devem andar juntos. Se Cristo não está centralizado na vida de um discípulo, que evangelho ele irá pregar? Que tipo de discípulos ele irá multiplicar? Na verdade é mais do que isto. Sem um claro evangelho do reino não haverá discípulos. Lembremo-nos da explicação dada por Jesus a respeito da parábola do semeador: “A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no coração; este é o que foi semeado ã beira do caminho. 20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; 21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. 22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera. 23 Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a entende; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.” O que era a semente? A semente era a palavra do reino. Fica claro, diante disso, que a falta de compreensão da palavra do reino comprometeu todos os frutos. Quem já tentou edificar discípulos por meio de um relacionamento de discipulado, sem que estes, tivessem um claro entendimento do evangelho do reino, sabe muito bem da dificuldade desta tarefa.

Parte do problema está relacionado à teologia tradicional sobre a salvação. Devido ao ensino católico que destacava a necessidade das obras para se receber a salvação, a igreja evangélica se contrapôs a esse ensino enfatizando que a salvação é somente pela fé sem a necessidade de obras. Mas isto não é verdade?

A salvação não é apenas por meio da fé? Ocorre que estes teólogos, pretendendo basear-se em alguns ensinamentos de Paulo, ignoraram outras partes das escrituras que mostram claramente como a fé e a obediência (obras) devem andar juntas, e como estão intimamente associadas com a salvação. Portanto, qualquer pessoa que professe fé em Jesus, precisa saber que essa fé deve ser acompanhada por obediência e se não for assim, ela não tem valor aos olhos de Deus. Se alguém afirma que crê, mas for desobediente, Deus o define como incrédulo. A fé é muito mais que uma concordância mental a respeito de toda verdade revelada em Cristo. “A fé baseada na razão é um tipo de fé, é certo, mas não é do caráter da fé bíblica. Ela é resultado de uma lei comum da mente” (A.W. Tozer). A fé bíblica não está nos domínios da mente, mas da vontade. O capitulo 2 da carta de Tiago nos mostra claramente a relação da fé com as obras:

“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? 15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. 18 Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé. 19 Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem. 20 Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? 21 Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? 22 Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, 23 e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. 24 Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente. 25 De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? 26 Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tg 2:14-26

A pregação de Tiago é contrária à de Paulo? Haveria contradição nas escrituras? Temos certeza que não. Tanto Paulo como Tiago sabiam perfeitamente que a fé e a obediência (obras), andam juntas. Como os judeus não entendiam a importância da fé, e perturbavam as igrejas, Paulo via a necessidade de enfatizar que a única forma de ter uma vida de obediência era por meio da fé em Jesus. E Tiago, por causa de alguns que entendiam mal os ensinamentos de Paulo e se tornavam levianos, via a necessidade de enfatizar que se a fé em Jesus fosse verdadeira, ela produziria transformação, obediência e boas obras. É necessário observar que os escritos de Paulo estão repletos de afirmações semelhantes às de Tiago:

“Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras.” Rm 15:18

“No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.” Tito 1:16

“Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; 10 refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. 11 Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.” 1Co 5:9-11

“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, 21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.” Gl 5:19-21

Semelhantemente Tiago enfatizava a fé: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. 7 Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; 8 homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.” Tg 1:6-8

A teologia moderna (séc XIX e XX) perdeu o verdadeiro sentido de fé e da graça. A graça se tornou barata (porque esta teologia não admite condições para a salvação e eliminou as condições colocadas por Jesus), e a fé tornou-se uma mera concordância mental acrescida de um novo vocabulário, agora religioso. Se a pessoa, além disso se batizar e se tornar um membro assíduo das atividades da igreja, será considerada um fiel seguidor de Cristo. Este é um sério candidato a uma vida de hipocrisia e a uma lamentável surpresa final. A Perdição eterna.

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? 23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” Mt 7:21-23

“Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” Hb 12:14

Mas Deus sempre mantém os seus profetas. Vejamos algumas afirmações de A. W. Tozer extraídas de seu livro “Homem: Habitação de Deus” “A fé é confiança em Deus e em seu Filho Jesus Cristo; é a resposta da alma ao Ser divino revelado nas escrituras; e mesmo esta resposta é impossível sem a ação interna do Espírito Santo. A fé é o dom de Deus à alma penitente, e nada tem a ver com os sentidos ou com os dados fornecidos por eles. A fé é um milagre; é a capacidade que Deus dá ao homem para confiar em Seu Filho, e aquilo que não resulte em ação conforme a vontade de Deus não é fé, mas é algo diferente. A fé e a moralidade são os dois lados da mesma moeda. De fato, a essência da fé é moral. Qualquer fé professa em Cristo como Salvador pessoal, que não ponha a vida do crente sob plena obediência a Cristo como Senhor é inadequada e só poderá trair sua vítima no final”.

Somente a pregação do evangelho do reino produz uma correta junção entre fé e obediência, porque ao proclamar as virtudes de Cristo, admoestamos aos corações para crerem nele, e ao anunciar as condições do reino instamos para que se entreguem a uma vida de obediência a ele. Se, pois, alguém nos acusar de que nossa mensagem é equivocada por que não pregamos a salvação somente pela fé e pela graça, depois de mostrar todos os textos e argumentos acima, podemos dizer também que nós cremos que a salvação vem apenas pela fé, mas a fé plena, dada pelo Espírito santo, que produz uma confiança tal que o homem se entrega totalmente e sem reservas ao Senhor Jesus. Menos do que isto é ilusão e engano e no lugar de glória haverá perdição eterna.

A outra parte do problema provém de uma teologia mais moderna e muito mais prejudicial. Os teólogos aos quais nos referimos no item anterior, na sua maioria foram homens sérios, santos e devotados a Deus, cuja intenção era a de “batalhar pela fé que foi dada aos santos”. Cremos que lhes faltou revelação e entendimento, mas muitos deles foram homens que amaram profundamente a Deus e à igreja. Hoje, entretanto, enfrentamos um problema muito maior do que a teologia que defende o “somente pela fé”. Hoje enfrentamos uma corrente de humanismo sem precedente na história da igreja.

Que é o humanismo? É uma filosofia que tem como ponto central de seu ensino o homem e sua felicidade. Como filosofia, surgiu no século XV, mas já faz parte do caráter do homem a muito mais tempo. O Pai do humanismo é o diabo. Foi ele quem plantou essa mensagem no coração de nossos pais lá no Éden, e desde então ela faz parte da natureza da raça humana. Não é necessário ensinar isto aos homens para que vivam desta forma. Já está no sangue, na carne, é herdado de pai para filho, desde Adão.

Porque então dissemos que é uma teologia moderna? Por que em toda a história da igreja nunca se pregou outra mensagem que não fosse o governo de Cristo sobre a vida dos homens. Ele é o Senhor sobre toda a criação. Ele é o começo, o meio e o fim. “Porque dele, por meio dele e para ele e para ele são todos as coisas.” Rm 11:36 “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. 18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, 19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” Cl 1:17-19 Assim viveu a igreja enquanto se manteve fiel aos ensinos de Cristo. Quando ela se desviou, mergulhando num período de trevas que durou mil anos, Deus usou homens como: Martinho Lutero, John Wycliffe, John Hus, Jerônimo Savonarola. Estes homens cooperaram com Deus para trazer a igreja de volta às verdades aprendidas. Eles ficaram conhecidos como os reformadores. Sua pregação tinha como base a pureza do evangelho, a soberania e autoridade de Cristo, o reino de Deus e a santidade de vida.

Diante disso, podemos concluir que o humanismo é a mensagem deste século, pois tanto no princípio com Jesus e os apóstolos, como a partir da idade média por meio dos reformadores, o evangelho do reino foi mensagem da igreja. Mas hoje, o que vemos? Por causa do evangelho que está sendo pregado pela igreja, muitos agora dizem que são crentes. A igreja invadiu a mídia, artistas e jogadores de futebol proclamam sua fé. Mas o evangelho que está produzindo estas “conversões” não é o evangelho do reino, é o outro evangelho, é o evangelho maldito do qual Paulo advertiu aos Gálatas. Essa nova geração de “convertidos” não tem como fundamento o Cristo e seu Senhorio. São como a parábola que Jesus contou: “A semente que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. 14 A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer.” Lc 8:13,14

São frutos da mensagem que compromete Deus com a felicidade do homem. Agora, não somente o homem foi criado para ser feliz, mas Deus existe em função disto. Deus está comprometido com o homem e sua felicidade. Basta pô-lo à prova. Ele vive em função de sua felicidade terrena. Venha a ele e terás prosperidade, o melhor carro, a melhor casa, a saúde perfeita”. Alguns ainda acrescentam: “É claro que tens que ser fiel nos teus dízimos e ofertas, na verdade, esta é a chave para conquistar as bênçãos de Deus”. É verdade, que no meio de tanto engano, existem homens sinceros, que apenas estão sendo fiéis ao que aprenderam. São homens com motivações corretas que necessitam de uma revelação maior a respeito das escrituras.

Mas neste caso, diante de todo o contexto do que estamos falando e da situação atual do ensino que tem sido dado à igreja, não se trata de homens santos, que estão sinceramente equivocados quanto a verdade das escrituras. A verdade é que estamos vivendo o que foi predito pelo apóstolo Pedro: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. 2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; 3 também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” 2Pe 2:1-3

É o erro de Balão de que falou Judas. Pregam o que o povo quer ouvir, como nos advertiu Paulo: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; 4 e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” 2 Tm 4:3,4

Alguém já disse que o falso profeta é aquele fala o que o povo quer ouvir. A trinta anos atrás era difícil, proclamar-se cristão. Era motivo de chacota. Hoje é bonito, está na moda. Todos querem dizer que Jesus salva. Qual é a origem dessa mudança? A igreja orou muito e invadiu o mundo com uma mensagem de consagração e santidade? Não. Infelizmente o que ocorre é que a igreja adaptou-se ao mundo passando a usar a sua linguagem. O humanismo está sendo pregado dos púlpitos e essa pregação está atraindo multidões porque a mensagem lhe cai bem. A igreja tirou a cruz de sua pregação para torná-la menos hostil e mais atraente. Esses, que agora estão se “convertendo” com essa nova pregação, estavam perdidos fora da igreja, e agora estão perdidos “dentro” da igreja.

E qual é o resultado deste evangelho? Não há lugar para corrigir a vida de ninguém, não há lugar para a santidade. Falar em santidade é extremismo e radicalidade. Os jovens? O padrão de relacionamento visando o casamento em nada difere daquele praticado no mundo. O que impera são as paixões da mocidade. As mulheres? Submissão e ser ajudadora do marido são coisas do passado. Casais que se divorciaram de seus cônjuges, casaram-se novamente e estão vivendo em adultério com outra pessoa? Qual é o problema? Todos tem o direito de ser felizes. Deus é amor e jamais daria alguma ordem que interferisse na felicidade de seus filhos. Mais uma vez podemos citar Tozer: “Não busquemos ser felizes, busquemos ser santos. Teremos muito tempo para ser felizes no céu”. Esta gente é o fruto do outro evangelho. Nunca foram libertados do seu humanismo. Pelo contrário: Receberam um Deus humanista, que lhes deu um evangelho humanista por meio de pregadores humanistas.

“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” Gl 1:6-9

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; 18 Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, 19 E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus.

20 Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: 21 Não toques, não proves, não manuseies? 22 As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens.” Cl 2:8, 18-22

Devemos ensinar nossos discípulos, não apenas anunciando a verdade, mas também contrastando a verdade com o engano que é tão forte em nossos dias. Como fazia Paulo. Hoje, infelizmente não tem sido fácil fazer o mesmo. Não queremos transmitir a imagem de que somos donos da verdade e muito menos ofender aos demais. Pois bem. Que continuemos assim. Não somos os donos da igreja, não é nossa tarefa corrigir o rumo que ela toma. Mas uma coisa devemos fazer: Esclarecer melhor os nossos discípulos. Em relação a eles não podemos ser comedidos no falar. O humanismo evangélico invade suas casas por meio da televisão, do rádio, dos livros, dos amigos evangélicos. Nós nos calamos, e por isso muitos se confundem e são até mesmo arrastados. Façamos como Paulo. Ele não estava preocupado com ética. Homens que vinham de Jerusalém pregando judaísmo e circuncisão, transitavam com facilidade diante dos apóstolos João, Tiago e Pedro, mas Paulo os chamava de cães. Ele nunca foi a Jerusalém para dizer aos irmãos que deviam calar a estes homens, mas quando estes queriam influenciar as igrejas na Galácia e em outras partes, Paulo não hesitava em desmascarar-lhes as heresias. Façamos nós a mesma coisa com nossos discípulos.


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